“As
ramificações podem ser observadas em qualquer lugar ao longo do comprimento da
raiz, mas ocorrem mais comumente na porção apical e nos dentes posteriores. Em
73,5% dos casos, ramificações são encontradas no terço apical da raiz, em 11%
no terço médio e em 15% no terço coronal”. (Ricucci
D, Siqueira JF Jr. Fate of the tissue in lateral canals and apical
ramificationsin response to pathologic conditions and treatment procedures. J
Endod 2010;36: 1–15).
A
Associação Americana de Endodontia – AAE define Canais Acessórios como
sendo “qualquer ramo do canal principal ou câmara pulpar que se comunica com a
superfície externa da raiz” e Canais Laterais como sendo “um canal
acessório localizado no terço coronal ou médio da raiz, geralmente
estendendo-se horizontalmente a partir do espaço do canal principal”. Portanto,
o termo Canais Acessórios engloba os canais laterais e as ramificações
apicais.
Schilder
postulou que a limpeza e o preenchimento do canal principal com suas ramificações
são o principal objetivo do tratamento do canal radicular, mas a literatura
científica mostra através de trabalhos que os Canais Acessórios são
difíceis de serem limpos e obturados, sendo considerados como uma das principais causas de reinfecção do
canal radicular e de fracassos do tratamento endodôntico.
Ricucci
e Siqueira, no mesmo trabalho citado acima, fazem algumas considerações
baseados nos achados dos seus estudos: 1- o tecido pulpar dentro das
ramificações permanecem relativamente não afetados por instrumentos e irrigantes
após a preparação químico-mecânica, independentemente da condição
pré-operatória da polpa; 2- o material obturador que radiograficamente aparece preenchendo
os canais laterais e ramificações apical foi forçado para estas áreas, mas isso
de forma alguma indica que a ramificação esteja selada ou desinfectada; 3- as
bactérias localizadas em grandes ramificações podem atingir números suficientes
para causar ou manter a doença, sugerindo que outras estratégias, além de
encontrar uma técnica que distribua melhor o cimento ou a guta-percha para dentro
de ramificações, devem ser perseguidas para efetivamente desinfetar essas
regiões e otimizar o resultado dos tratamentos.
Como
endodontista clínico, tenho o entendimento que os canais acessórios são parte do
canal principal e, assim deveriam receber os mesmos cuidados de limpeza e desinfecção,
apesar das dificuldades em alcançar estas áreas, até mesmo porque não temos condições
clínicas de saber, previamente à intervenção nos canais radiculares, onde estão
localizados e quantos são os canais acessórios presentes em determinado dente.
Minha percepção clínica é de que, ao evidenciarmos radiograficamente o
preenchimento destas ramificações, oriundas
do canal principal, com o material obturador, poderemos aumentar a taxa de
sucesso do tratamento, apesar das pesquisas ainda não confirmarem em absoluto
este pensamento.
Neste
caso clínico, apenas o canal vestibular havia sido tratado e o retratamento endodôntico
iniciado por outro profissional que encontrou dificuldades na fase de
desobturação do canal (ver imagem radiográfica com presença de desvio) e então o
caso me foi encaminhado.
(Clique nas imagens para ampliar)
Foi
realizada a desobturação do canal vestibular e com o auxílio do Microscópio
Operatório foi localizado o canal palatino que não havia sido tratado
anteriormente. Finalizada as etapas de modelagem e limpeza dos canais
principais, os mesmos foram obturados com a técnica de termoplastificacão da
guta-percha e o emprego do cimento AH Plus.
O
que torna mais interessante este caso é que os canais acessórios, evidenciados após
o preenchimento com o material obturador, estavam saindo justamente do canal
palatino que não havia sido tratado anteriormente e promovendo uma lesão óssea lateral.
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