Para que possamos executar um tratamento endodôntico com um
alto nível de qualidade e com previsibilidade de sucesso clínico e
radiográfico, é necessário DIAGNOSTICAR com exatidão o problema. O diagnóstico
é a base que sustentará todas as outras etapas do tratamento endodôntico e só
conseguiremos um bom resultado se diagnosticarmos corretamente antes da
realização de qualquer procedimento clínico. Em muitas situações, diagnosticar
corretamente exige tempo, paciência,
experiência profissional e repetição de muitos testes e exames clínicos.
Este caso que resolvi apresentar a vocês demonstra
nitidamente uma falha no diagnóstico que comprometeu o resultado num curto
espaço de tempo. Tenho observado que os incisivos são o grupo de dentes mais
subestimados pelos profissionais, tidos como os mais simples e fáceis de serem
tratados e que qualquer clínico pode executar tratamento de canal nestes dentes;
ironicamente os incisivos são também o grupo de dentes que mais são submetidos
a reintervenções endodônticas (retratamentos) em meu consultório, decorrentes
de tratamentos mal conduzidos por outros profissionais. Na Endodontia não
existe caso fácil e nem caso simples!
Esta paciente foi encaminhada por outro profissional, que já
havia tratado e retratado o dente 11 por duas vezes e não conseguia obter
sucesso na regressão da fístula presente na mucosa vestibular. Vinha sendo
tratada com antibióticos e antinflamatórios numa tentativa desesperadora de
resolver o problema apenas com uso de medicação sistêmica.
No exame radiográfico inicial foi possível observar a
presença de rarefação óssea apical que envolvia também o dente 12. O dente 11
apresentava-se com um tratamento endodôntico satisfatório no aspecto visual
radiográfico. Ao teste de sensibilidade ao frio, foi possível constatar que a
polpa do dente 12 estava necrosada, confirmado também pelo teste elétrico.
Apesar de, no momento do exame clínico, não ter sido verificado visualmente a
fístula ou qualquer sinal clínico da sua possível existência, o histórico da
paciente e do profissional deixava bem claro a sua existência, com alguns
períodos de remissão espontânea. Havia presença de desconforto à palpação
apical, bem como à percussão vertical nos dois dentes.
Como o dente 12 foi diagnosticado com necrose pulpar, pude
concluir que este dente também necessitaria de tratamento endodôntico e que a
fístula persistente e a lesão apical poderiam estar diretamente relacionados a
este fato.
Apesar da imagem radiográfica mostrar uma boa obturação
endodôntica do dente 11, não poderia confiar apenas na imagem radiográfica,
pois já que o profissional que havia realizado este caso anteriormente falhou
na realização do diagnóstico (será que o dente 11 realmente necessitava de uma
intervenção endodôntica?), eu não poderia confiar na qualidade dos
procedimentos de limpeza e desinfecção daquele canal. Um outro fator decisivo
para optar pela realização de uma nova reintervenção endodôntica no dente 11, é
que eu tinha certeza que poderia fazer melhor, ou seja, que havia condições de
melhorar o aspecto visual final da obturação do canal.
O “re-retratamento endodôntico” foi realizado no dente 11
concomitantemente ao tratamento endodôntico no dente 12, programando-se uma
longa sessão de atendimento clínico para concluir o tratamento endodôntico do
dente 12 em uma única sessão e desobturar o canal do dente 11. Numa segunda
sessão o tratamento endodôntico do dente 11 foi finalizado, sem que tenha sido
utilizado qualquer tipo de medicação intracanal.
Nas imagens radiográficas, é possível observar os períodos de
proservação e a regressão da área de rarefação óssea circunscrita aos ápices
dos dentes 11 e 12, demonstrando que o resultado, até o momento, aponta para o
sucesso radiográfico e clínico, já que paciente mantém-se assintomática e sem
histórico de ressurgimento da fístula.
Este caso demonstra muito bem a importância de realizarmos um
exato diagnóstico inicial antes de procedermos qualquer intervenção no paciente,
por mais simples que ele possa parecer. É melhor termos um paciente apenas
chateado conosco por não termos conseguido diagnosticar e encaminhá-lo a outro
profissional, do que corrermos o risco de termos um paciente enfurecido por ter
sido vítima de um erro de diagnóstico por tão longo tempo.
Esse caso foi apresentado 1 ano atrás. Hoje no fim de 2013, vc ainda concorda em fazer a endodontia de um dente necrosado em uma única sessão? ATT Tais
ResponderExcluirOlá Taís, cada caso é um caso. Não generalizo a abordagem de canais com infecção. Na maioria dos casos utilizo medicação intracanal, mas em outros opto pela sessão única, que é totalmente suportada pela literatura. Volto a repetir, cada caso, cada paciente, cada momento... são situações diferentes que podem exigir abordagens diferentes. abraços
ResponderExcluirPela imagem creio se tratarem dos elementos 21 e 22, e não 11 e 12 como tratado no texto. Gostei do resultado, apesar de aparentemente da imagem 4 para a imagem 5 ter havido um aumento da lesão, o que pode ser uma variação no ângulo das radiografias. E discordo do tratamento de um dente com lesão periapical visível radiograficamente em uma sessão. Temos conhecimento hoje da necessidade de neutralização das endotoxinas bacterianas presentes nesses casos. Mas a literatura ainda apresenta essa possibilidade. Muito bom o blog, parabéns!
ResponderExcluirLeonardo, vc está certíssimo quanto a identificação dos dentes! Abraços
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