terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Obturação de Canais Acessórios após Retratamento Endodôntico.

“As ramificações podem ser observadas em qualquer lugar ao longo do comprimento da raiz, mas ocorrem mais comumente na porção apical e nos dentes posteriores. Em 73,5% dos casos, ramificações são encontradas no terço apical da raiz, em 11% no terço médio e em 15% no terço coronal”. (Ricucci D, Siqueira JF Jr. Fate of the tissue in lateral canals and apical ramificationsin response to pathologic conditions and treatment procedures. J Endod 2010;36: 1–15).

A Associação Americana de Endodontia – AAE define Canais Acessórios como sendo “qualquer ramo do canal principal ou câmara pulpar que se comunica com a superfície externa da raiz” e Canais Laterais como sendo “um canal acessório localizado no terço coronal ou médio da raiz, geralmente estendendo-se horizontalmente a partir do espaço do canal principal”. Portanto, o termo Canais Acessórios engloba os canais laterais e as ramificações apicais.

Schilder postulou que a limpeza e o preenchimento do canal principal com suas ramificações são o principal objetivo do tratamento do canal radicular, mas a literatura científica mostra através de trabalhos que os Canais Acessórios são difíceis de serem limpos e obturados, sendo considerados como  uma das principais causas de reinfecção do canal radicular e de fracassos do tratamento endodôntico.

Ricucci e Siqueira, no mesmo trabalho citado acima, fazem algumas considerações baseados nos achados dos seus estudos: 1- o tecido pulpar dentro das ramificações permanecem relativamente não afetados por instrumentos e irrigantes após a preparação químico-mecânica, independentemente da condição pré-operatória da polpa; 2- o material obturador que radiograficamente aparece preenchendo os canais laterais e ramificações apical foi forçado para estas áreas, mas isso de forma alguma indica que a ramificação esteja selada ou desinfectada; 3- as bactérias localizadas em grandes ramificações podem atingir números suficientes para causar ou manter a doença, sugerindo que outras estratégias, além de encontrar uma técnica que distribua melhor o cimento ou a guta-percha para dentro de ramificações, devem ser perseguidas para efetivamente desinfetar essas regiões e otimizar o resultado dos tratamentos.

Como endodontista clínico, tenho o entendimento que os canais acessórios são parte do canal principal e, assim deveriam receber os mesmos cuidados de limpeza e desinfecção, apesar das dificuldades em alcançar estas áreas, até mesmo porque não temos condições clínicas de saber, previamente à intervenção nos canais radiculares, onde estão localizados e quantos são os canais acessórios presentes em determinado dente. Minha percepção clínica é de que, ao evidenciarmos radiograficamente o preenchimento  destas ramificações, oriundas do canal principal, com o material obturador, poderemos aumentar a taxa de sucesso do tratamento, apesar das pesquisas ainda não confirmarem em absoluto este pensamento.

Neste caso clínico, apenas o canal vestibular havia sido tratado e o retratamento endodôntico iniciado por outro profissional que encontrou dificuldades na fase de desobturação do canal (ver imagem radiográfica com presença de desvio) e então o caso me foi encaminhado.

(Clique nas imagens para ampliar)

Foi realizada a desobturação do canal vestibular e com o auxílio do Microscópio Operatório foi localizado o canal palatino que não havia sido tratado anteriormente. Finalizada as etapas de modelagem e limpeza dos canais principais, os mesmos foram obturados com a técnica de termoplastificacão da guta-percha e o emprego do cimento AH Plus.





O que torna mais interessante este caso é que os canais acessórios, evidenciados após o preenchimento com o material obturador, estavam saindo justamente do canal palatino que não havia sido tratado anteriormente e promovendo uma lesão óssea  lateral.


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