terça-feira, 31 de março de 2020

Utilização do plug de MTA em dentes com risogênese incompleta e necrose pulpar: relato de caso clínico amparado pela literatura científica.

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Neste artigo científico publicado, os autores avaliaram clinicamente e radiograficamente durante um período de 10 anos e chegaram a conclusão que o tampão apical com MTA foi uma técnica eficaz e bem-sucedida para o manejo em longo prazo desse grupo de dentes com polpas necróticas com desenvolvimento radicular imaturo e lesões periapicais (Mineral Trioxide Aggregate as Apical Plug in Teeth with Necrotic Pulp and Immature Apices: A 10-year Case Series August 2014Volume 40, Issue 8, Pages 1250–1254).

Os procedimentos convencionais de obturação do canal radicular são desafiadores em casos de dentes com polpa necrótica, ápices imaturos e lesões periapicais devido à ausência da constrição apical natural e à presença de contaminação por umidade. Nesses casos, o risco de extrusão dos materiais obturadores e a dificuldade no controle do selamento apical podem comprometer o resultado do tratamento endodôntico a longo prazo. O procedimento de apexificação com agregado de trióxido mineral (MTA) é um dos métodos mais confiáveis para o tratamento desses dentes. Criar uma barreira apical artificial com MTA é uma alternativa à apexificação em que se utiliza o hidróxido de cálcio (Ca [OH] 2), e essa abordagem pode oferecer um prognóstico a longo prazo mais previsível e melhor. Um plug apical de MTA promove o reparo apical e evita o extravasamento de material obturador e pode aumentar a resistência à fratura de dentes imaturos, como tem sido demonstrado por outros trabalhos publicados.

Neste caso clínico realizado por mim, o histórico do paciente apresentou relato de formação um abscesso periapical agudo. Ao exame clínico foi possível identificar a existência de restauração na região do cíngulo palatino e no exame radiográfico foi identificado uma projeção do cíngulo para o interior do espaço do canal radicular, sugerindo a existência de comunicação entre o meio externo e interno do dente. Seria um dens in dente? Vejam este outro caso já publicado aqui no Endodontia Avançada Dens in dente - Um desafio para o Endodontista.

Após os procedimentos de limpeza e desinfeção do canal radicular, inclusive com a utilização de medicação intracanal à base de hidróxido de cálcio, foi confeccionado um plug apical de MTA e o restante do canal foi obturado com guta-percha termoplastificada injetada. Para restauração do acesso coronário, foi empregado a resina composta Luxacore Z a fim de proporcionar também maior proteção do terço coronário radicular, minimizando assim possível ocorrência de fratura radicular nesta região, algo bastante comum de ocorrer em dentes que não tiveram sua formação radicular completada. Ao final do acompanhamento clínico e radiográfico pelo período de 1 ano, pode-se verificar completo reparo ósseo na região periapical.


Abscesso Periapical Crônico: 1 ano de acompanhamento clínico e radiográfico.

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Conforme a terminologia de diagnóstico (pulpar e periapical) recomendada pela AAE - American Association of Endodontists, o abscesso periapical crônico é uma reação inflamatória à infecção pulpar e necrose caracterizada por início gradual, pouco ou nenhum desconforto e descarga intermitente de pus através de um trato sinusal (fístula) associado. JOE — Volume 35, Number 12, December 2009

A detecção de um dente com fístula de origem endodôntica e sua via são convencionalmente avaliadas com uma radiografia periapical e um cone de guta-percha introduzido em seu interior, conforme já relatado nesta postagem anterior Rastreamento reverso da fístula odontogênica

Esta postagem é uma atualização daquela postagem anterior, onde foi possível verificar a regressão completa da infecção periapical após o período de 1 ano, desde que o tratamento endodôntico foi finalizado.

segunda-feira, 30 de março de 2020

Retratamento endodôntico de molar inferior com anatomia dos canais da raiz mesial do tipo 2 (2-1) Vertucci e fratura de instrumento XP Clean.



Este caso clínico de retratamento endodôntico ilustra uma situação em que as etapas de desobturação dos canais radiculares foram realizadas sem maiores dificuldades. Para a remoção da guta-percha de dentro dos canais, inicialmente foram utilizadas pontas de ultrassom na porção coronária dos canais e em seguida limas manuais C-Pilot associada com eucaliptol nos terços médio e apical. Após obtenção da patência nos canais e realização da odontometria eletrônica, os canais foram repreparados com lima rotatória Easy 15/05 e lima Reciproc 25/08.


Após finalizada a formatação dos canais, foi empregado o instrumento rotatório XP Clean (MK Life) para auxiliar nos procedimentos de limpeza dos canais radiculares. Este instrumento atua com o objetivo de complementar os procedimentos de limpeza e desinfecção dos canais através da agitação da substância irrigadora e contato mecânico com as paredes internas do canal, removendo assim debris, micro-organismos e restos de material obturador que ficam aderidos nas reentrâncias dos canais.


Durante a utilização da XP Clean no canal MV, o instrumento fraturou e não foi possível realizar a remoção do fragmento. As tentativas de remoção acabaram por “empurrar” o fragmento para uma posição mais apical e mais curva do canal. Este acidente provavelmente tenha ocorrido em função da morfologia dos canais MV e ML, que sem encontravam no terço apical terminando em um único forame. Normalmente existe uma curvatura abrupta no ponto de encontro destes canais (classificação Tipo 2 Vertucci) ou a presença de istmos, sendo que provavelmente o instrumentou travou neste ponto de encontro do canais e resultou na ruptura do instrumento. Outra possibilidade para ocorrência deste acidente pode estar relacionada ao operador  😀 .

Sendo assim, optei por realizar a obturação dos canais radiculares englobando o fragmento na massa obturadora (guta-percha MK Life + cimento AH Plus) sem que houvesse nenhum prejuízo pra o resultado final do retratamento endodôntico.

quinta-feira, 26 de março de 2020

Uso de pinos de fibra de vidro na Endodontia: Qual o comprimento de inserção do pino?

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Alguns dentes que foram tratados endodonticamente podem requerer a instalação de pinos intraradiculares de fibra de vidro. Esta é uma decisão clínica, que deve ser tomada em função de alguns fatores relacionados a estrutura dental remanescente após finalizado os procedimentos endodônticos. De um modo em geral, os pinos intraradiculares são comumente utilizados quando o remanescente coronário dental não apresenta suporte ou estrutura para retenção de uma restauração coronária, seja uma restauração direta ou indireta.

A perda de estrutura dental provocada pela cárie ou decorrente de um trauma dental, compromete muito mais a resistência do dente do que o próprio tratamento endodôntico. Atualmente, os endodontistas tem focado no sentido de preservar ao máximo a estrutura dental, seja realizando acessos coronários conservadores, seja realizando a limpeza e modelagem dos canais também de maneira conservadora, conservando ao máximo as paredes dentinárias do canal sem comprometer a limpeza e desinfecção dos canais.

Antigamente, quando se utilizava os pinos metálicos, havia a preocupação com o comprimento de inserção do pino, com o objetivo de aumentar a retenção e estabilidade do mesmo dentro do espaço do canal. Com os pinos de fibra de vidro associado às técnicas e materiais adesivos utilizados atualmente, os pinos não requerem que sejam inseridos em grande profundidade no canal, por conta da técnica adesiva e do módulo de elasticidade semelhante ao da dentina. Entretanto, se anatomicamente for possível aumentar a profundidade de cimentação do pino e quanto mais for ajustado anatomicamente ao formato do canal radicular, menor será a possibilidade de ocorrência de falhas na retenção dos pinos de fibra de vidro.

O caso clínico apresentado acima ilustra uma situação em que, no mesmo paciente, e em dentes vizinhos diferentes, os pinos de fibra de vidro foram cimentados em extensões de profundidade diferentes. No dente 11 foi possível cimentar o pino num comprimento maior do canal, pois o formato anatômico do canal permitiu que assim fosse feito. Já no dente 12, o pino foi cimentado numa extensão de profundidade menor, já que a anatomia curva do canal (curvatura no sentido vestíbulo-palatino não visualizada no exame radiográfico, mas clinicamente observada com o auxílio do Microscópio Operatório) não permitia o avanço em maior profundidade, respeitando-se então o limite imposto pela configuração anatômica do canal de maneira a não provocar desgastes desnecessários na parede do canal e sem comprometer a retenção do pino de fibra de vidro.