sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Tratamento Endodôntico de Pré-Molar Inferior: um desafio de arrepiar.

A grande maioria dos colegas de profissão se “arrepiam” quando falam em fazer um tratamento de canal em molares. O fato de encarar um dente com 3 ou 4 canais assusta e causa repulsa em muitos colegas, principalmente os iniciantes na prática da Endodontia. Comigo acontece isso com os pré-molares inferiores, pois são dentes que se apresentam na grande maioria das vezes com uma anatomia bastante difícil de dominar. Ainda bem que os pré-molares inferiores não fazem parte daqueles grupos de dentes que mais requerem um tratamento endodôntico, pelo menos é o que as minhas estatísticas mostram.
Os pré-molares inferiores mostram-se muitas vezes com raízes curvas, duplas e canais com bifurcações em locais de difícil acesso para realização da completa limpeza e modelagem. Não esquecendo também da inclinação do dente na arcada, que por vezes pode dificultar os procedimentos de abertura coronária e localização da entrada dos canais radiculares.
Pois bem, o caso abaixo ilustra perfeitamente esta dificuldade a que me refiro. Ao exame clínico inicial, pude constatar a presença de uma fístula intra-oral. O exame radiográfico periapical inicial é possível verificar a presença de rarefação óssea apical e a presença de duas raízes com curvaturas. Caracterizava-se então um quadro de abscesso periapical assintomático.
A presença de canais curvos, raízes duplas (bifurcação) e a rarefação óssea apical mostrava que o tratamento deveria ser conduzido com maior esmero no quesito desinfecção, e para conseguir essa almejada desinfecção com maior previsibilidade de sucesso seria necessária a limpeza mecânica e química de toda a extensão dos canais radiculares, ou seja, a qualquer custo deveria alcançar a patência daqueles canais. Só assim eu poderia ficar tranqüilo.
Sabedor que os pré-molares são traiçoeiros (pelo menos comigo), não fiquei nem um pouco surpreso quando ao fazer a exploração inicial do canal não localizei um dos canais que bifurcava-se. Fiz a odontometria eletrônica com a respectiva confirmação radiográfica e nada de achar aquele canalzinho daquela raiz curva. Após muitas e muitas limas pré-curvadas nas suas pontas e várias horas de cadeira, havia esgotado toda a minha capacidade e esperança em alcançar aquela patência.
Restava-me abusar das soluções irrigadoras, para que quimicamente pudesse fazer aquilo que eu não conseguia realizar mecanicamente: limpar e desinfeccionar aquele canal.
Caso concluído e proservado durante 1 ano e 8 meses, aí está o resultado. Vale ressaltar a assiduidade do paciente em comparecer religiosamente ao consultório a cada 6 meses para realização dos exames clínicos e radiográficos de proservação. A fístula não reapareceu em nenhum momento e o paciente encontra-se assintomático. Podemos dizer que se trata de um caso com sucesso ou ainda é cedo para chegarmos a esta conclusão? Em tempo, digo-lhes que a mim este pré-molar inferior não causa mais arrepios.